“Por que é que os homens se deslocam em vez de ficarem quietos”? Esta pergunta reconduz-nos ao centro do mistério do próprio homem! As viagens nunca são apenas exteriores. Não é simplesmente, na cartografia do mundo, que o homem viaja. Seria não perceber o fundo do ser Humano, por exemplo, não identificar em toda esta inquietação que se apodera dele nos meses de Verão o desejo de mais, de ir mais longe. Deslocar-se implica uma mudança de posição, uma maturação do olhar, uma abertura ao novo, uma adaptação a realidades e linguagens, um confronto, um diálogo tenso ou deslumbrado, que deixa necessariamente impressões muito fundas. A experiência da viagem é a experiência de fronteira e do aberto, de que o homem precisa para ser ele próprio. Nesse sentido, a viagem é uma etapa fundamental da descoberta e da construção de nós próprios e do mundo. É a nossa consciência que deambula, descobre cada detalhe do mundo e olha tudo de novo, como da primeira vez. A viagem é uma espécie de propulsor deste olhar novo. Mais do que viajantes, somos peregrinos”
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, O tesouro escondido, 107-108
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